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A exposição O útero do mundo, atualmente em cartaz no MAM, toma como princípio a proposição feita pelos surrealistas em 1928 para que se deixasse de ver a histeria como um fenômeno patológico e se passasse a considerá-la como “um meio supremo de expressão”. Eles estavam fascinados pelas fotografias das mulheres histéricas em pleno ataque, que começaram a circular na segunda metade do século XIX, nas quais se veem seus corpos contorcidos, deformados, indomáveis. Desde então, a imagem da histeria – a imagem daqueles corpos convulsionados, sem controle sobre si mesmos, corpos indomáveis e, por isso, livre das determinações biológicas e sociais – se torna central para os artistas e pensadores da modernidade. Assim, a partir do século XX, o que antes era considerado doentio ou problemático é assumido, pelo menos por algumas correntes mais radicais do pensamento estético, de modo positivo: como aquilo que é próprio da expressão artística.
No âmbito da literatura brasileira, Clarice Lispector, que serve de fio condutor à exposição, e Hilda Hilst retomaram com brilho o elogio do impulso histérico na forma de um pensamento simultâneo da forma artística e do corpo humano como lugares de êxtase, isto é, de saída de si – e de saída, portanto, das ideias convencionais tanto da arte quanto da própria humanidade. Em celebração ao lançamento do catálogo da exposição O útero do mundo, o MAM convidou os professores e pesquisadores Raul Antelo e Eliane Robert Moraes para escolher, ler e comentar trechos de Clarice Lispector e Hilda Hilst. O evento será em 19 de outubro, às 19h, no centro do espaço expositivo.
Convidados:
Eliane Robert Moraes é professora de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP), e pesquisadora do CNPq. Foi professora visitante nas universidades da Califórnia de Los Angeles (UCLA, USA), de Nanterre (Paris 10 – FR), de Perpignan Via Domitia (FR) e da Nova de Lisboa (PT).
Entre suas publicações destacam-se diversos ensaios sobre o imaginário erótico nas artes e na literatura, e a tradução da História do Olho de Georges Bataille (Cosac & Naify, 2003). É autora, dentre outros, dos livros: Sade - A felicidade libertina (Imago, 1994), O Corpo impossível (Iluminuras/Fapesp, 2002), Lições de Sade – Ensaios sobre a imaginação libertina (Iluminuras, 2006) e Perversos, Amantes e Outros Trágicos (Iluminuras, 2013). Organizou a Antologia da poesia erótica brasileira (Ateliê, 2015) e atualmente, desenvolve pesquisa sobre as linhas de força do erotismo literário no Brasil.
Raúl Antelo é professor titular de literatura brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisador 1-A do CNPq, foi Guggenheim Fellow e professor visitante nas Universidades de Yale, Duke, Texas at Austin, Autónoma de Barcelona, Maryland e Leiden, na Holanda. Presidiu a Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) e recebeu o doutorado honoris causa pela Universidad Nacional de Cuyo. É autor de vários livros, dentre os mais recentes, Potências da imagem; Crítica acéfala; Ausências; Maria com Marcel. Duchamp nos trópicos; Alfred Métraux: antropofagia y cultura; Imágenes de América; Archifilologías latinoamericanas e A ruinologia. Colaborou em várias obras coletivas, tais como Arte e política no Brasil: modernidades; Comunidades sem fim e Imágenes y realismos en América Latina. Editou A alma encantadora das ruas de João do Rio; Ronda das Américas de Jorge Amado (traduzido ao italiano); Antonio Candido y los estudios latinoamericanos, bem como a Obra Completa de Oliverio Girondo.
O encontro é gratuito e aberto a todos os públicos.