Openstage

21 out 2016
19:30
Porto Alegre – RS

Release

Jorge Vargas (Cavalo Doido) lança seu primeiro álbum solo "O Cantador de Histórias" aqui na Openstage.

JORGE VARGAS (Por Luiz Gonzaga Lopes, jornalista cultural, escritor, editor de Cultura do jornal Correio do Povo):

O disco O Cantador de Histórias!, o primeiro solo de Jorge Vargas, é realmente um mergulho no tempo e nas sonoridades de tramas das guerras entre o exército norte-americano e de índios heróis como Crazy Horse, o mesmo traduzido Cavalo Doido da banda do músico há 20 anos. A batalha de Little Bighorn datada de junho de 1876 (há 240 anos) entre as tropas do General Custer e dos índios Sioux, liderados por Sitting Bull e Crazy Horse , entrou na cabeça de Jorge Vargas por acaso e outros tantos confrontos dos oprimidos com os opressores. Acabou virando uma boa obsessão.

Mas vamos ao disco que foi concebido e trabalhado durante um ano e meio na Tec Audio, de Marcelo Corsetti, e lançado devagarinho no final de maio e início de junho. São 11 faixas com uma intensidade arrebatadora, uma sonoridade trabalhada com esmero de artesão, passando pelo folk, blues, baladas e um pouco de pop, por que não? Fora estas qualidades todas, o time de músicos convidados por Vargas teve a precisão de uma flecha no alvo ou no inimigo branco (para usar uma metáfora indígena).

A primeira faixa tem a dupla Eduardo Gambona (guitarra slide) e Pedro Motta (hammond) nos acordando para o mundo da batalha em Little Big Horn. "Custer x Crazy Horse" é o despertar significativo de Jorge Vargas cantando "Venha Crazy Horse", chamando para a briga, pela luta contra a dizimação, o expropriar, a opressão. Mesmo encurralado, o Gen. Custer vai querer matá-lo. É uma morte quase metafórica, se transpormos estes quase dois séculos e meio, ainda mais com os riffs e solos de Gambona e a cozinha de Motta, Igor Conrad (contrabaixo) e Cristiano Lessa (bateria).

A melhor música do disco (grifo meu) é "Língua do Mal". Não por ser uma balada e ter a interpretação de Bebeto Alves, com seu jeito milonga, folk, quase brega, mas por toda a emocional carga envolvida. É quase uma sinfonia. Jorge me disse que tem várias preferidas do CD. Esta é uma delas. O refrão com o violino de Júlia Reis rasgando a nossa alma é coisa para nunca mais esquecer: "Rios escuros já foram transparentes / Peixes flutuam de cabeça prá baixo / E construíram as cidades / Sobre os cemitérios dos nossos ancestrais". Ancestralidade indígena. Se fecharmos os olhos veremos o grande Cavalo Doido e a batalha que ele ganhou. Uma coisa maluca, transcendente, da cabeça do gênio Jorge Vargas.

Por falar em músicas preferidas, a terceira faixa "Pequeno Grande Chifre" é outra delas para Jorge Vargas. O coro de Vargas e Oly Jr., com sua viola 10 cordas, segue a linhagem das músicas do interior, do country ao bluegrass para falar do índio no confronto com o soldado. Apesar de tudo o indio entende que o soldado vai dormir em paz.

A quarta faixa é Lua Boa. "Que lua boa / prá gente se encontrar / que lua boa / prá gente namorar". O duo vocal é Jorge Vargas com Zé Caradípia, com um arranjo maravilhoso, aquela melancolia dos campos, com o piano de Leo Ferlauto, o deslizar do violino de Julia Reis e a batida segura de Cristiano Lessa fazendo o tapete musical no qual a lua reflete.

O Acampamento é uma faixa operística, conta uma história de tentativa de dominação pelo general de cabelos longos com sua cavalaria que está com sede de sangue: “A Cavalaria tinha sede de sangue / e nós lhe devolvemos o seu sangue / sujando os seus casacos com sangue da liberdade”. A harmônica de Vargas empresta uma alma de Bob Dylan ao gran finale da música.

Palavras Assanhadas e Os Marcianos Levaram Você falam de amor. A primeira é mais baladinha e também faz um diálogo folk entre a harmônica de Vargas, o violino de Júlia Reis, o hammond de Sérgio Gomes e os vocais de Zé Caradípia. A segunda é mais embalada. Parece o encontro de Jorge Vargas com a alma rebelde de Raul Seixas e Júpiter Maçã. Na levada de Cristiano Lessa, Vargas puxa o surreal de “Os marcianos invadiram minha janela e levaram você”. O perfeito demais que some de uma hora para outra. Destaque para o violino de Júlia Reis e aquele clima de interior um saloon qualquer no interior americano.

Algumas faixas são romantismo puro. O que falar então de Ana Luiza, cujo instrumental (piano e hammond do maestro Maurício Novaes) e modo de conduzir a música estão na linhagem de Neil Young em todos os arranjos e inclusive com uma levada que lembra Down by The River. "Ana Luiza e seus pensamentos, eu quero viajar na sua fantasia, rios e montanhas, sol e o luar, me fazem acreditar". A guitarra solo de Veco Marques nos faz viajar por este cenário descrito por Vargas e à maneira de um Eagles ou de um Cream ou do próprio Young nos faz viajar por um outro mundo, o de Ana Luiza e o do amor infantil incondicional.

Doce Gole é uma música quase pop, tem uma pegada meio soul, meio rock, para degustar o doce gole da paixão. O companheiro de Cavalo Doido Sérgio Gomes faz uma cama de teclados meio progressiva, meio Yes, enfim tem a harmônica de Jorge Vargas dialogando com a guitarra solo de Veco Marques e com a slide de Gambona e o contrabaixo preciso de Paulo Freitas. Uma música que arrepia. Me lembrou um Led Zeppelin ou Bob Dylan. Putz, quanta referência numa canção só. Falei que o disco tem uma faixa melhor do que a outra.

Neil Young, o músico-guru que permeia a carreira de Vargas e dos amigos da Cavalo Doido, está presente em algumas faixas como referência, mas está inteiro na décima música do CD: "Quando Ouvi o Neil": "A primeira vez que eu ouvi o Neil / O mar se abriu como prá Moisés / Fiquei maluco como um furacão (Like a Hurricane)/ Com os versos de MY MY HEY HEY". O start da música é envolvente como uma cachoeira de sons. A Les Paul de Jorge Vargas, os backing vocals de Telmo Martins, a guitarra slide de Eduardo Gambona e o hammond de Pedro Mota acabam nos Neilyounguizando pela história do cara que se hipnotizou com o músico canadense e deixou a viola do Hallai Hallai e sua alma na curva do rio. O final da música é emoção pura, adornado pelo piano de Pedro Motta.

Mais orquestrada pelo piano de Leo Ferlauto e o violino de Júlia Reis, a balada Todos os Dias (composta em parceria com Carlos Schmidt) é uma ode de quem quer uma pessoa sempre: "E por mais que seja estranho, ainda penso em vocês todos os dias". Que balada de uma alma que ama.

Enfim, um disco para ser ouvido repetida e randomicamente, sem parar. Será um dos cinco principais lançamentos do ano, com certeza. Senão, não levaria quase três décadas de estrada para este amadurecimento.

CAVALO DOIDO:
A CAVALO DOIDO nasceu em Porto Alegre no final dos anos 90 fazendo aquilo que chamam de folk/rock (a combinação do violão, harmônica com a guitarra, bateria, baixo) cantando as suas vivências pelas gélidas ruas de Porto Alegre. A influência deste estilo está na paixão pela obra do guitarrista canadense NEIL YOUNG, bem como as investidas pela música celta e as canções brasileiras do 14 BIS, HALLAI HALLAI, Sá & GUARABYRA, BIXO DA SEDA, CARLINHOS HARTLIEB, ALMÔNDEGAS, HERMES AQUINO e tantos outros. E nesta trilha que o Jorge Vargas vem caminhado e dividindo palcos e sonhos de artista da música com seus amigos e companheiros de jornada. O surgimento da CAVALO DOIDO cristalizou estas influências e definiu um estilo de compôr e tocar.

O que: Jorge Vargas (Cavalo Doido) na Openstage - Entrada Franca
Quando: 21/10/2016 - Sexta-feira
Horário: 19:30hs
ENTRADA FRANCA

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