Release
Contemporâneos no Semente é uma série de shows que se propõe a dar continuidade ao projeto Contemporâneos na Funarte, lançado em 2015, na Sala Sidney Miller, e que reuniu alguns dos principais artistas da música brasileira contemporânea, sempre com uma perspectiva nacional e cosmopolita. Foram selecionados seis artistas do Rio, SP e Pernambuco que se apresentam no palco Semente às quartas (de 15/3 a 19/4), sempre às 21h, com preço único de R$20.
Confira a programação completa.
15 de março - Leo Cavalcanti (SP)
22 de março - Coletivo Chama (RJ)
29 de Março - Cadu Tenório - Sobre a Máquina (RJ)
05 de abril - Zé Manoel (PE)
12 de abril - Rodrigo Campos (SP)
19 de abril - Cacá Machado e Luciana Alves (SP)
POR JOÃO MÁXIMO 08/12/2016 | OGlobo
Zé Manoel
RIO — Um disco de piano, voz e nada mais, servindo a onze canções românticas como já não se fazem, seria o bastante para se admirar a coragem de Zé Manoel, pernambucano de Petrolina que ainda não é tão conhecido por aqui como seu talento merece. Coragem, porém, é pouco para definir “Delírio de um romance a céu aberto”, seu terceiro disco.
Um disco que emociona. Não só pelas canções, a maioria falando de separação, distância, adeus, mas também, e principalmente, pelo compositor e pianista Zé Manoel, que nos surpreende ao lembrar que algumas das nossas mais belas canções de amor foram feitas na época em que ele nasceu. Emociona ouvi-lo entregar-se a elas sem se preocupar em ser visto como antigo, nostálgico, saudosista, risco que se corre numa música popular como a nossa, sempre atrelada à moda.
Das onze canções, só duas são inéditas: “Nós que nos conhecemos num navio” (parceria com Juliano Holanda), cantada por Amelinha, e a faixa-título (com Vanessa da Mata), na voz do próprio Zé Manoel. Aqui, outro trunfo do disco. As canções foram distribuídas por onze intérpretes que, qualquer que seja a respectiva praia musical, revelam-se sob medida para interpretar esse tipo de música. É soberba a Fafá de Belém de “Aconteceu outra vez”, densa a Ana Carolina de “Canção e silêncio”, plena a Ná Ozzetti de “Volta pra casa”. Zé Manoel é o letrista dessas três canções. Na última, fazendo seu piano soar, nota por nota, sob as que Ná canta, obtém efeito que torna mais tocante os apelos para que o outro volte (efeito já usado na gravação anterior da pernambucana Isadora Neto).
Zé Manoel é seu próprio letrista também na buarqueana “Valsa da ilusão”, pelo vozeirão de Tiganá Santana, e em “Água doce”, uma encantadora saudação à chuva que custa a chegar, perfeita na leitura de Juçara Marçal. Nas outras canções, não se repetem os parceiros. Mavi Pugliesi está em “O sol das lavadeiras”, que fala de sertão sem ser sertaneja, interpretada por Elba Ramalho. Vinicius Sarmento é o de “Deixar partir”, suave e sobriamente cantada por Ayrton Montarroyos. Paulo Mello inspira-se em Cole Porter para o primeiro verso de “Cada vez que digo adeus”, com Célia. E é de Walther Moreira Santos “Motivo número 2”, com Arthur Nogueira. Bons letristas, excelentes intérpretes, tudo valoriza esta bem-vinda coleção de canções do corajoso e talentoso Zé Manoel.
Cotação: Ótimo.